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Lactose sobre Controle

LACTOSE Publicação Entrevista Revista PENSE LEVE X ANO 24 / Nº 279 / OUTUBRO 2015  

A ingestão desse açúcar naturalmente presente no leite e em seus derivados pode oferecer sintomas nada agradáveis em pessoas intolerantes. Entender o problema e conhecer quais são as medidas existentes para driblar esses desconfortos é a chave para ter uma vida mais tranquila e sem restrições

 

LEVEMENTE MAIS DOCE

Os alimentos zero lactose, que passam pela ação da enzima lactase, apresentam um sabor mais doce em comparação ao sabor menos intenso conferido pela lactose. 

A lactose é pouco doce, porém formada por dois açúcares mais doces que ela. Dessa forma, quando há a quebra da lactose em glicose e galactose, existe a tendência de o produto final ficar mais adocicado”, esclarece Claudia Regina Valente.

Tomar um copo de leite, passar manteiga no pão quentinho, comer uma fatia de queijo... Ficou com água na boca só de pensar? Essas delícias que fazem parte da alimentação de muitas pessoas podem ser um verdadeiro transtorno para outras. A estimativa é que quase 70% da população já sentiu incômodos gástricos ao ingerir esses alimentos. E o motivo é simples: intolerância à lactose, substância presente no leite e em seus derivados. 
“Conhecida como açúcar do leite, a lactose é um dissacarídeo formado por glicose e galactose”, afirma Bete Russo, nutricionista de São Paulo (SP). Se você faz parte do grupo que limita esses itens do cardápio, significa que possui dificuldade de digerir esse açúcar, devido à insuficiência de uma enzima chamada lactase. “Ela é responsável por quebrar a molécula de lactose em pedaços menores, para que seja absorvida pelo corpo. Nas pessoas que possuem deficiência da lactase, os produtos lácteos vão direto para o cólon [parte do intestino grosso], sem a digestão da lactose”, explica Jacqueline Anversa, nutricionista da clínica Dra. Maria Fernanda Barca, em São Paulo (SP).

Se não dá para escapar dos alimentos com lactose, você também pode lançar mão dos suplementos de lactase, disponíveis nas versões líquida, em cápsula e tabletes

Sinais do problema

Quando isso acontece, há a produção de ácido láctico e gases — como o gás carbônico e o hidrogênio — pelas bactérias da flora intestinal. Essa fermentação da lactose provoca o aumento do trânsito intestinal e da pressão no cólon, podendo ocasionar muitos incômodos. “Os mais comuns 
são distensão abdominal, cólicas, aumento do ‘barulho abdominal’ [conhecidos como borborigmos] e, em especial, aumento de evacuação, com característica pastosa e fétida”, destaca Tiago Szegö, cirurgião do aparelho digestivo do Instituto 
Paulista de Cirurgia Gastroenterológica e Obesidade, de São Paulo (SP). Além disso, os jovens também podem apresentar vômito. “Os sintomas começam de 30 minutos até 2 horas após a ingestão de alimentos que contenham lactose”, diz Rita de Cássia Novais, nutricionista da empresa 
Consultoria Alimentar, de São Paulo (SP). Geralmente, é necessária a ingestão de 12 gramas de lactose por vez — o equivalente a 240 mililitros de leite — para iniciar os desconfortos em pessoas com deficiência de lactase, mas esse cálculo não é igual para todos que sofrem com o problema. 
“Isso porque existem três graus de intolerância: leve, moderado e grave. Eles são classificados conforme o tipo de deficiência apresentada e segundo exames complementares de diagnóstico. Esta classificação deve ser feita pelo médico”, descreve Jacqueline Anversa.

A origem

Mas o que causa a falta de produção de lactase e, consequentemente, 
a dificuldade de digestão da lactose? Segundo Bete Russo, a intolerância se divide em primária e secundária. “A primária ocorre ainda na infância, quando o leite deixa de ser a alimentação exclusiva e o corpo diminui a produção de lactase. Com o tempo, isso pode levar à intolerância à lactose. Na secundária, a produção dessa enzima é diminuída por conta de doenças, como gastroenterite, doença de Crohn e doença celíaca”, aponta. Além disso, existe a intolerância congênita, que é um caso raro, em que o bebê já nasce com a deficiência total de lactase. E o primeiro passo para diagnosticar o problema é fazer uma análise durante a rotina e, claro, buscar orientação médica para a realização de exames. “O teste mais difundido nos laboratórios é o de curva glicêmica. O paciente ingere de 25 g a 50 g de lactose e se avaliam os sintomas por 2h a 3h. Nesta técnica, é coletada a glicemia em jejum e depois é feita uma curva. Se o paciente absorver a lactose, a glicemia deve se elevar em 1,4 mmol/l ou mais”, explica Jacqueline Anversa. Outro método usado é o teste do hidrogênio, em que é feita a medição de hidrogênio pela fermentação da lactose não absorvida.

Processo químico

Não há tratamento para evitar que a intolerância se desenvolva, mas 
uma coisa é certa: a mudança alimentar é o melhor caminho para evitar 
reações e conviver com o problema. 
E não é preciso banir os lácteos do cardápio, já que é possível encontrar 
no mercado alimentos com teores de lactose reduzidos ou nulos. “Atualmente as indústrias de laticínios têm diversificado sua linha de produtos direcionados aos intolerantes à lactose e, além do leite com lactose hidrolisada, oferecem também leites fermentados, queijos, leite condensado e creme de leite com redução ou ausência de lactose em suas composições”, ressalta Marcelo Resende de Souza, professor da área de Tecnologia e Inspeção de Leite e Derivados da Escola Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, de Belo Horizonte (MG). Mas ao contrário do que muitos imaginam, esses produtos não passam por um processo para separar a lactose do restante dos componentes fluidos do leite, e sim por um método de quebra desse açúcar, semelhante ao processo digestivo natural. 
“Essa tecnologia surgiu da necessidade de controle da textura arenosa dada pelo crescimento de cristais de lactose em leite condensado e sorvetes e foi aperfeiçoada para atender à demanda de pessoas com problemas de saúde”, comenta Cláudia Regina Valente, engenheira de 
alimentos do grupo de Alimentação Natural da Fundação Mokiti Okada, de São Paulo (SP). Segundo Souza, esta quebra também é feita por meio da enzima lactase, que é adicionada e resulta na hidrólise da lactose com a 
liberação de moléculas menores de açúcar, que podem ser absorvidas pelas células intestinais. “Não há a perda de nutrientes dos alimentos, apenas a transformação bioquímica de um dissacarídeo (lactose) para monossacarídeo (de glicose e galactose)”, pontua.

Feitos com leite

De acordo com Cláudia Regina, o leite possui 4% de lactose e alguns produtos derivados da bebida podem ter diferentes teores desse açúcar. Isso porque a lactose é solúvel em água, o que faz com que os produtos 
ricos em gordura — como creme de leite e manteiga — tenham teor menor. “Já entre os queijos, os frescos e úmidos —como minas frescal, ricota, cottage, boursin, muçarela, cream cheese e marscarpone — têm maiores 
níveis de lactose do que os maturados (minas padrão, gorgonzola, brie, cheddar e parmesão), devido à saída da lactose com o soro e à quebra durante o processo de maturação”, afirma Cláudia. Os iogurtes, por sua vez, são fermentados por micro-organismos que utilizam a lactose como fonte de energia, diminuindo sua quantidade no produto final. Essa variação pode explicar por que algumas pessoas intolerantes consomem determinados alimentos e não apresentam desconfortos. Mas caso a intolerância seja de nível severo — em que há a necessidade de excluir o consumo de laticínios —, o ideal é preferir os produtos zero lactose. “Esses produtos não são submetidos à ação da lactase em seu processamento industrial, mas, sim, feitos com o leite que já passou por esse processo de quebra”, ressalta Souza.

INTOLERÂNCIA OU ALERGIA?

Os incômodos gastrointestinais podem até ser semelhantes, mas a intolerância e a alergia são problemas diferentes. 

“Isso porque a alergia ao leite está relacionada à presençade algumas proteínas da bebida, que o sistema imunológico identifica como sendo um agente agressor, desencadeando vários sintomas”, afirma Rita de Cássia. E, além das cólicas, distensão abdominal, gases e diarreia estão presentes na intolerância, Jacqueline Anversa destaca que na alergia é possível apresentar sintomas extraintestinais, como sinusite, rinite, asma, enxaqueca, ansiedade, palpitação, alergias na pele, psoríase,eczema, agravamento da síndrome do intestino irritável, colites e constipação alérgica. Normalmente, percebemos essa diferenciação quando há o consumo de queijos, pois possui maior teor de proteína e menor quantidade de lactose”, explica.
Os níveis de intolerância à lactose são divididos em leve,moderado e severo, o que faz com que a presença de sintomas varie de pessoa para pessoa. Geralmente, 12 g de lactose — o equivalente a 240 ml de leite — é suficiente para iniciar os desconfortos

Aliada da digestão

Os intolerantes à lactose também contam com uma forma para suprir a falta de lactase em momentos que é impossível deixar de consumir alimentos 
com lactose. “A terapia de reposição enzimática com lactase exógena, obtida de leveduras ou fungos, constitui uma possível estratégia para a deficiência primária. 

A suplementação está disponível comercialmente na forma líquida, em cápsula e em tabletes. Muitos produtos são importados, mas é possível encontrá-los em drogarias, lojas de produtos naturais e suplementos e farmácias de manipulação”, aponta Bete Russo
Capaz de quebrar a lactose, o suplemento deve ser administrado com acompanhamento médico, já que a quantidade indicada pode variar para cada pessoa. 
“Tudo vai depender do nível de produção de lactose do organismo, o quanto de lactose que a pessoa irá ingerir e a dose que a cápsula possui. Alguns fabricantes recomendam iniciar o uso desses suplementos com uma cápsula. Caso ainda sinta sintomas de intolerância, é necessário aumentar gradualmente o número de cápsulas, até encontrar a dosagem ideal”, 
finaliza Jacqueline Anversa. 


Nutrição

Para não excluir os lácteos do cardápio, a indústria de alimentos realiza 
o método químico de quebra da lactose, semelhante ao processo digestivo natural, que possibilita a diversidade de produtos com nulo ou baixo teor desse açúcar, voltados a intolerantes

 

LEIA O RÓTULO!

Os alimentos que resultam na concentração do leite são os que mais têm teor de lactose, como o doce de leite, o leite condensado e o leite em pó. Para se ter uma ideia, o soro do leite — que é o líquido do leite retirado da fabricação de queijos — quando transformado em soro de leite em pó, chega a ter 70% de seu peso em lactose. “Esse ingrediente é muito comum na panificação, por isso, é importante ler sempre o rótulo, pois quantidades significativas de lactose podem ser encontradas em um inocente biscoito de polvilho, por exemplo”, aconselha Claudia Regina Valente. E a preocupação não deve ser apenas pelo alto teor de lactose, mas também para entender o alimento, já que produtos da mesma categoria podem ter composição e forma de processamento muito diferentes, o que faz com que o rótulo seja a melhor pista para orientar a compra.  


Bete Russo® - Nutricionista - CRN 3 6004.
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